Koisas lidas

04 Set. 2011

Pior cego é aquele que não quer ver!!!

Li à dias uma koisa muito engraçada:
esta frase que nós usamos muitas vezes tem uma origem no minimo peculiar.
Então consta que em 1647, o Dr. Vicent P. D'Argenrt fez o 1º transplante de córnea.
Foi um sucesso da medicina na época, menos para o paciente, que assim que passou a ver ficou horrorizado com o mundo que via.
Pediu ao cirurgião que lhe arrancasse os olhos, ao que o cirurgião se negou.
Levou o caso a tribunal e em tribunal ganhou a causa.
Este cego entrou para a história como o cego que não quis ver....

Eu hoje em dia estou um pouco como este cego, existem muitas koisas que eu preferia não ver..... ;)

18 Set. 2011

Adoro Florbela Espanca, vejam só este poema maravilhoso:

Realidade
Em ti o meu olhar fez-se alvorada,
E a minha voz fez-se gorjeio de ninho,
E a minha rubra boca apaixonada
Teve a frescura pálida do linho.

Embriagou-me o teu beijo como um vinho
Fulvo de Espanha, em taça cinzelada,
E a minha cabeleira desatada
Pôs a teus pés a sombra dum caminho.

Minhas pálpebras são cor de verbena,
Eu tenho os olhos garços, sou morena,
E para te encontrar foi que eu nasci...

Tens sido vida fora o meu desejo,
E agora, que te falo, que te vejo,
Não sei se te encontrei, se te perdi...


Florbela de Alma Conceição Espanca, poetisa portuguesa, 1894//1930

03 Nov. 2011

Outro poema arrepiante:

Sou a tua casa

Sou a tua casa, a tua rua, a tua segurança, o teu destino.
Sou a maçã que comes e a roupa que vestes.
Sou o degrau por onde sobes, o copo por onde bebes, o teu riso e o teu choro, o teu frio e a tua lareira.
O pedinte que ajudas, o asilo que te quer acolher.
Sou o teu pensamento, a tua recordação, a tua vontade.
E também o artesão que para ti trabalha, o medo que te perturba e o cão que te guia quando entras pela noite.
Sou o sítio onde descansas, a árvore que te dá sombra, o vento que contigo se comove.
Sou o teu corpo, o teu espírito, o teu brilho, a tua dúvida.
Sou a tua mãe, o teu amante, o marfim dos teus dentes.
E sou, na luz do outono, o teu olhar.
Sou a tua parteira e a tua lápide.
Os teus vinte anos.
O coração sepultado em ti.
Sou as tuas asas, a tua liberdade, e tudo o que se move no teu interior.
Sou a tua ressaca, o teu transtorno, o relógio que mede o tempo que te resta.
Sou a tua memória, a memória da tua memória, o teu orgulho, a fecundação das tuas entranhas, a absolvição dos teus pecados.
O teu amuleto e a tua humildade.
Sou a tua cobardia, a tua coragem, a força com que amas.
Sou os teus óculos e a tua leitura.
A tua música preferida, a tua cor preferida, o teu poema preferido.
Sou o que significas para mim, a ternura que desagua nos teus dedos, o tamanho das tuas pupilas antes e depois de fazer amor.
Sou o que sou em ti e o que não podes ser em mim.
Sou uma só coisa.
E duas coisas diferentes.

Joaquim Pessoa, in 'Ano Comum'